Repórter teve um aneurisma na artéria aorta e
estava internado desde maio.
Pernambucano trabalhava na Globo desde o começo dos anos 1980.
Pernambucano trabalhava na Globo desde o começo dos anos 1980.
Do G1 Rio
O corpo do jornalista e escritor Geneton Moraes Neto foi velado nesta
quarta-feira (24), no Memorial do Carmo, no Caju, Zona Portuária do Rio. Ele
morreu no fim da tarde de segunda-feira (22), aos 60 anos, vítima de um
aneurisma dissecante na aorta. Geneton estava internado desde maio na Clínica
São Vicente, na Gávea, Zona Sul da cidade. O corpo do jornalista foi levado
para cremação no início da tarde.
O diretor geral da Rede Globo, Carlos Henrique
Schroder, esteve presente no velório e descreveu o jornalista como um
profissional que tinha a preocupação de sempre buscar algo novo. Para Schroder,
Geneton deixa sua marca e seu modo de fazer jornalismo como ensinamentos para
as próximas gerações.
"É muito triste, muito duro. Talvez perder o
Geneton no momento mais criativo da carreira dele. O Geneton era um jornalista
vigoroso, forte, ético. O Geneton tinha uma preocupação permanente e nos
encantava nas redações, que era buscar algo sempre diferente, algo novo, com um
jeito diferente de contar uma história. Ele surpreendia a cada reunião, a cada
discussão, trazendo algo novo e algo diferente. Ele deixa, certamente, isso
plantado para as gerações futuras, esse jeito de pensar, esse jeito de fazer
que busca explicar melhor para o espectador uma história, que pode ser muito
difícil, mas que ele facilitava e simplificava o jeito de contar", disse
Schroder.
Geneton
Moraes Neto brilhou por 40 anos no jornalismo (Foto: Globo/Divulgação)
Amigos e parentes no velório do
jornalista Geneton Moraes Neto (Foto: Fernanda Rouvenat / G1)
Amigos e parentes do jornalista começaram a chegar
ao local às 8h. O caixão estava coberto com uma bandeira do Sport Recife, time
de coração de Geneton.
"A gente trabalhou algumas vezes na Globo. Eu
tenho uma admiração enorme pelo Geneton, era uma pessoa muito íntegra. Profissionalmente,
era um cara que não queria saber de sucesso, não queria saber de dinheiro, só
queria ser um bom jornalista e ele conseguiu fazer isso muito bem", disse
o cineasta Guel Arraes.
O diretor de fotografia Walter Carvalho disse ter
sido o último a visitar Geneton. Os dois tinham o projeto de fazer um
documentário sobre Carlos Drummond de Andrade.
"A gente tinha uma aproximação e havia uma
comarcão nossa que ele tinha umas entrevistas com o Drummond e ele queria
transformar isso em um filme que teria uma parte ficcional. Eu iria fotografar
com ele. Iríamos fazer esse ano, mas por questões de agenda não foi possível
ser feito agora e a gente estava esperando exatamente um espaço na vida dele
junto com o meu pra fazer e não ia passar desse ano. Eu fui a última visita que
ele teve no hospital. Eu saí de lá às sete horas e ele operou no dia seguinte.
A combinação era quando ele saísse do hospital a gente ia fazer esse filme. A
gente ia filmar dois dias", disse Walter Carvalho.
Outros amigos e colegas comentaram sobre as qualidades profissionais de Geneton. "Pernambucano dos bons, de grande conversa, sabia se colocar. De televisão, entendia pra caramba. Tinha hora que você fazia uma conversa e você fica esperando o quê que o Geneton ia dizer. Se o Geneton concordasse com você era muito legal, se o Geneton não concordasse com você era melhor você ver onde você tava errado, provavelmente ele estaria certo", disse o jornalista Claudio Manoel.
Outros amigos e colegas comentaram sobre as qualidades profissionais de Geneton. "Pernambucano dos bons, de grande conversa, sabia se colocar. De televisão, entendia pra caramba. Tinha hora que você fazia uma conversa e você fica esperando o quê que o Geneton ia dizer. Se o Geneton concordasse com você era muito legal, se o Geneton não concordasse com você era melhor você ver onde você tava errado, provavelmente ele estaria certo", disse o jornalista Claudio Manoel.
Guel Arraes comparece ao velório do jornalista Geneton de Moraes Neto
(Foto: Fernanda Rouvenat / G1)
O jornalista deixou a viúva, Elizabeth, três
filhos, Joana, Clara e Daniel, e quatro netos, Beatriz, Dora, João Philippe e
Francisco. Com mais de 40 anos de carreira no jornalismo, Geneton era um apaixonado
pelo exercício da reportagem, função que ele afirmava ser a "realmente
importante" no jornalismo.
Apresentadora Leilane Neubarth
chegou ao Memorial do Carmo pouco depois das 10h (Foto: Fernanda Rouvenat / G1)
De volta ao Brasil, foi editor e repórter da Rede
Globo Nordeste e depois na Rede Globo Rio. Foi editor executivo do Jornal da
Globo e do Jornal Nacional, correspondente da GloboNews e do jornal O Globo em
Londres, repórter e editor-chefe do Fantástico.
Todo profissional precisa de uma bandeira. Escolhi
uma: fazer Jornalismo é produzir memória. De certa forma, é o que me move"
Geneton Moraes Neto
Na GloboNews desde 2006, estava à frente do
programa Dossiê. Em agosto de 2009, estreou um blog no G1, que manteve
atualizado até abril de 2016.
Geneton também era escritor: publicou oito livros
de reportagem e entrevistas. E seguiu o caminho dos documentários, o mais
recente sobre Glauber Rocha.
Pernambucano, nasceu, como gostava de enfatizar,
"numa sexta-feira 13 [de julho], num beco sem saída, numa cidade pobre da
América do Sul: Recife". Saiu do referido beco sem saída para ganhar o
mundo fazendo jornalismo. Seus primeiros passos na profissão foram aos 13 anos
de idade, escrevendo artigos amadores para o "Diário de Pernambuco" onde,
poucos anos depois, conseguiu seu primeiro emprego.
Geneton entrevistou seis presidentes da República,
três astronautas que pisaram na Lua, os prêmios Nobel Desmond Tutu e Jimmy
Carter, os dois militares que dispararam as bombas sobre Hiroshima e Nagasaki,
a mais jovem passageira do Titanic e o assassino de Martin Luther King, entre
muitos outros personagens históricos.
Entre os entrevistados que enfrentaram a
“metralhadora jornalística” de Geneton estão os generais Newton Cruz e Leônidas
Pires Gonçalves, que ocuparam importantes postos de comando durante o regime
militar e cujas entrevistas renderam ao repórter o Prêmio Embratel de
Telejornalismo de 2010.
Guardava as fitas brutas de todas as suas entrevistas. Parte delas ele enviava para o Centro de Documentação da Globo, outra guardava em casa.
Guardava as fitas brutas de todas as suas entrevistas. Parte delas ele enviava para o Centro de Documentação da Globo, outra guardava em casa.
"Todo profissional precisa de uma bandeira.
Escolhi uma: fazer jornalismo é produzir memória. De certa forma, é o que me
move", afirmou o jornalista em depoimento ao Memória Globo.
Em 2010, ao receber o prêmio Embratel de
jornalismo, Geneton publicou em seu blog "pequena
carta aos que gastam sola de sapato fazendo Jornalismo". Escreveu que
"fazer Jornalismo é saber que existirá sempre uma maneira atraente de
contar o que se viu e ouviu" e outros lemas (leia abaixo a íntegra).
Além de reportagens, Geneton Moraes Neto publicou
diversos livros, dentre eles “Hitler/Satalin: o Pacto Maldito”, “Nitroglicerina
Pura”, “O Dossiê Drummond: a Última Entrevista do Poeta”, “Dossiê Brasil”,
“Dossiê 50: os Onze Jogadores Revelam os Segredos da Maior Tragédia do Futebol
Brasileiro”, “Dossiê Moscou, “Dossiê História: um repórter encontra personagens
e testemunhas de grandes tragédias da história mundial” e “Dossiê Gabeira”.
Geneton em entrevista a Carlos
Heitor Cony para o ‘Dossiê GloboNews’ (Foto: Globo / Divulgação)
O jornalista também produziu documentários como o
“Canções do Exílio”, exibido no Canal Brasil, com depoimentos de Caetano
Veloso, Gilberto Gil, Jorge Mautner e Jards Macalé, sobre o período em que
moraram em Londres, e “Garrafas ao Mar: a Víbora Manda Lembranças”, que reúne
entrevistas que ele gravou nos 20 anos de convivência com o jornalista Joel
Silveira, um dos maiores repórteres brasileiros.
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